quarta-feira, 28 de novembro de 2007

O perturbador da ordem

São 23h39 e já era para eu estar dormindo. Há mais de uma hora eu despedi de todos no MSN e, supostamente, deixei a internet para ir dormir. Estava e estou com uma tremenda dor de cabeça, talvez por tantas contas que tive que pagar hoje. Mas como estão notando eu não dormi. E por um motivo simples: enquanto eu estou aqui, minha máquina de lavar (AVE MÁQUINA!) está lá trabalhando como uma escrava para deixar meia dúzia de camisas sociais limpinhas para que minha semana possa continuar. Como já disse no post específico sobre a máquina, não posso deixá-la sozinha, pois depois esqueço a roupa dentro da máquina e ela acaba com cheiro de molhada, de forma que é praticamente impossível tirar.
Isso aconteceu várias vezes, caro visitante, e nem aqueles líquidos mágicos batizados de “passe bem” costumam resolver a questão do cheiro que fica na roupa se eu a esquecer lá dentro. Sendo assim, tenho que esperar acabar a lavagem para colocá-las no minivaral que possuo na área e, aí sim, de consciência e roupa limpa, dormir em paz.
Imagino que os vizinhos estejam querendo fazer a mesma coisa. Já suponho, por exemplo, que dona Maria do Carmo, minha vizinha da frente, já colocou sua camisola de bolinhas vermelhas e um tapa-olho marmota em seus aposentos. Ou que a velhinha do décimo andar já passou a chave no piano e uma hora dessas prepara-se, já com a dentadura dentro do copo, para uma noite tranqüila de sono.
Acontece, caro visitante, que em um prédio grande como esse, as coisas nem sempre são assim. Vez ou outra tem um vizinho que exagera, faz uma festa até tarde, chama uma cambada de amigos e tumultua o ambiente e o sono dos pobres coitados que por azar na vida definiram como moradia um pedaço de teto exatamente ao lado do infeliz. Pois é. E eu já fui esse infeliz.
Que incômodo, caro leitor. Eu, um cara respeitador das leis, correto com as pessoas e justo com os pobres mortais, imagino-me taxado de perturbador da ordem, franqueador de eventos fora do horário e ofensor da moral e dos bons costumes?! Que vexame! Mas explico. Casa de solteiro, sozinho e sem empregada costuma ser ponto de encontro oficial da turma, seja para um amigo-oculto, para assistir um jogo ruim da seleção brasileira ou mesmo para ficar de papo e esquecer os problemas do dia-a-dia (mesmo que esses problemas sejam exatamente a ruindade de nossa seleção).
Logo que mudei-me para cá fui “fichado” como um subversor, sem culpa nenhuma, diga-se de passagem. Acontece que, logo na primeira semana de permanência na green house, surgiu a idéia de fazer um amigo-oculto na editoria em que eu trabalhava no jornal. Evento de jornalista, para quem não conhece, costuma já começar tarde. Era uma quinta-feira e definimos começar tudo 22h. Antes disso era impossível, já que o jornal fecha por volta desse horário e ninguém poderia sair de lá antes.
Eu, na época repórter de política, previ que chegaria em casa mais cedo, por volta das 20h, organizaria tudo e pronto: receberia a turma para um festejo razoavelmente rápido e sem riscos para com os vizinhos.
Acontece que vida de jornalista é complicada e fui escalado, às 17h, para ir para a porta da Polícia Federal, onde ia ser libertado um deputado preso por sonegação de impostos. Fui para lá, esperando que, cumprida a ordem de soltura, ele saísse por volta das 18h, ou no mais tardar 18h30. O tempo foi passando, passando, a chuva caindo na minha cabeça, a fome apertando e o pior... o horário do amigo-oculto indo para o brejo. Por volta das 22h30, 23h as pessoas começaram a se aglomerar na porta do meu prédio, com salgadinhos e refrigerantes na mão. Enquanto isso, eu estava ainda na porta da Polícia Federal, praticamente preso como o deputado que eu aguardava. Lembro exatamente que ás 0h17 ele foi libertado. Um carro já me aguardava lá na porta da PF para me levar em casa, onde a turma toda, de umas 10, 12 pessoas me aguardava.
Pois bem, caro leitor, uma festa que começa 0h40 realmente não pode dar certo. Se der certo para nós, dá errado para os vizinhos. E foi isso que aconteceu. O tempo foi passando, a festa foi rolando, as pessoas indo embora e os mais animados ficando. Até que houve a primeira reclamação. Vizinhos, obviamente, queriam dormir.
Semana depois, outra festa, outro problema. O home theater que eu comprei e instalei na sala não passava do volume 2 (e ele vai até o 39), mas não era suficiente. As pessoas é que falavam alto, riam na janela e etc. Coisas normais de uma festa animada. Normais não no meio da madrugada. E veio a segunda reclamação. E assim aconteceu mais uma vez.
Em resumo, caro leitor, ganhei rapidamente o estigma de perturbador da ordem. Com justiça, tudo bem. Mas aí os vizinhos resolveram passar dos limites e abusar. Um mês após os episódios estava eu, domingo, 15h, com o home theater ligado nas alturas, enquanto lavava o banheiro de casa. De fato o som estava alto, mas eu precisava de motivação para lavar o banheiro. Encher tudo de espuma, esfregar daqui e dali, em pleno domingo, enquanto todos descansavam? Era justo ligar o som alto. Mas os vizinhos não perdoaram. Lembraram de meu histórico já “fichado” e não deu outra... Reclamaram! Por azar deles, o som estava tão alto, mas tão alto, que eu obviamente não ouvi o interfone tocando para que o porteiro reclamasse. Mas ele foi mais esperto e interfonou para um vizinho que esmurrou minha porta para avisar da reclamação.
Claro que eu ainda fiz questão de contestar: “poxa, domingo, a essa hora”? Mas não adiantou. Aceitei o argumento ridículo de que um outro vizinho qualquer queria “tirar uma sonequinha” e abaixei o som. Tentei assim, limpar a minha barra, mas tenho a impressão de agora sou conhecido no prédio da seguinte forma: “o cara que coloca som alto ou tumultua o ambiente, mas que respeita qualquer pedido para que abaixe o volume ou pare com a algazarra”. Menos mal...

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Um comentário:

Lucas Calente disse...

haha.
boa!
escuto som alto aqui, nunca reclaram, mas um dia perdi a noção do horário, era 1:00 da manhã e o som alto e eu tomando banho, do nada o interfone tocou, ai percebi que ja era bem tarde!