Como vim parar aqui?

Melhor começar do início né... Então vou tentar explicar como vim parar nesse mundo paralelo chamado Green House. Depois de 25 anos morando na casa dos pais, e de um estágio de três meses morando sozinho em Juiz de Fora, embarquei para Belo Horizonte. A GH não foi o destino inicial. Juro que tentei outras opções, mas quatro traumas me fizeram vir para o mundo green.

TRAUMA 1 – PERDIDO EM MACACOS

A primeira opção era a casa do meu irmão... na saída da cidade. Um chalé em um condomínio fechado... com paz, tranqüilidade e passarinhos piando na janela (ok. ta ficando gay né...). Mas o destino não quis que fosse esse o meu futuro...
Tudo começou a dar errado quando peguei um ônibus e fui parar lá em Macacos. Pra quem não sabe, macacos não são apenas animais. É também um povoado distante de BH. Isso mesmo. Fui parar em um arraial... outra cidade. Mas não é por burrice não. É que o sistema de transportes de BH tem uns ônibus com o mesmo número, mas que passam em locais diferentes dependendo do horário... Pois bem. Lá fui eu contente achando que estava indo para o Retiro das Pedras (meu irmão mora lá...). Depois de passar por umas 200.000 árvores em um uma floresta sem fim, o ônibus parou e o motorista me mandou descer. Era a última viagem e só tava eu, ele e uma garota... Entendi tudo... mas estraguei a noite deles... Fiz ele descer com a porcaria do ônibus até o BH Shopping. Sobrevivi, mas não escapei do trauma.
Por falar em BH Shopping foi lá que eu sofri o segundo trauma.

TRAUMA 2 – ASSALTO NO ÔNIBUS

Fui assaltado apenas uma vez na vida. Mas foi logo na minha segunda semana em BH. Eu saía de Contagem (cidade maravilhosa), onde fica a redação do jornal onde trabalho e pegava o famoso 003, que levava até o BH Shopping, onde pegava outro ônibus até o Retiro das Pedras. Dia desses eu peguei o 003 já lá pra meia-noite e to calmamente lendo meu jornal no looongo caminho quando ouço aquela gritaria no ônibus. O negócio rolando e eu lá lendo coluna social pra distrair... Mas o barulho tava demais e então eu abaixei a folha de jornal já com cara feia, como quem fosse reclamar.
Não deu pra reclamar. Dois caras armados já tinham roubado metade do ônibus... e só não levaram meu celular porque joguei no chão. No entanto sobrou pros únicos 11 reais que eu tinha na carteira.
Aliás, notaram que meu início em BH foi de pobreza né? Mas nesse dia eu ainda tinha 11 reais na carteira. Teve situação pior. E aí que vem o terceiro trauma!

TRAUMA 3 – SEM DINHEIRO, SEM TRANSPORTE

Eleições 2006... fim de expediente, já depois de meia-noite. Sem carro, minha opção de sair de Contagem era usar a kombi do jornal. Imaginem o estado dessa kombi... Mas ela vai deixando gente em todos os lugares do mundo e, reza a lenda, ninguém chega em casa antes das 4h da manhã. No Retiro então... não ia chegar tão cedo.
Qual foi minha opção? Ônibus! Sem notar que o horário já não era dos melhores, fui feliz da vida para o ponto... esperar por uns... digamos 20 minutos. Saquei que o ônibus não passava então resolvi recorrer à opção kombi de novo. Tarde demais. Já tinha partido. Voltei às pressas para o ponto. Não rápido o suficiente para evitar um temporal que me deixou mais molhado que campeão olímpico de natação. Pois bem... Enquanto tentava esconder da chuva, pendurado em cima do banco do ponto, fui perdendo as esperanças. Saquei que não havia ônibus e táxi, àquela altura, não era pro meu bico. Não tinha mais do que cinco reais na carteira e, pra ir pra casa dali, menos de 30 não resolvia. Depois de muito drama, consegui uma solução ridícula. Fui prum posto de gasolina em frente ao ponto e fiquei lá, com o Visaelectron, pagando a gasolina de quem chegava com o cartão e pegando o dinheiro. Era um mico só... não fosse um pão-duro que pediu pra colocar apenas 20 reais no primeiro abastecimento. Resultado... precisei pagar mico duas vezes pra juntar os 35 reais que precisava para chegar em casa.
E foi assim que eu desisti do Retiro das Pedras...
Mas não resolveu o problema... tinha mais um trauma para me encorajar a alugar meu próprio apartamento... o quarto trauma...

TRAUMA 4 – A INSTALAÇÃO DA NET

Saí do Retiro das Pedras e vim parar no centro da cidade. Ônibus à vontade, metrô, caronas mil. O mundo perfeito para um pão com salame que amarela em tirar carteira... Hospedado na casa de um dos meus melhores amigos... também jornalista lá na empresa.
Pois bem... não foi essa maravilha toda não e só durou um mês. A casa só tinha um quarto e eu ficava na sala para dar privacidade a ele. Um colchão mirrado estirado no chão, justamente na passagem para a cozinha... Tudo bem... era desconfortável, mas dava para aturar. Ia tudo indo bem... mesmo aos trancos e barrancos, até que aconteceu algo desagradável.
O camarada resolveu instalar a net (tv por assinatura e internet) em casa e como nossos horários eram diferentes, só tinha eu em casa para receber os funcionários da operadora... logo pela manhã. Claro que eu tava dormindo quando os caras chegaram... mas para fazer uma cena, peguei o colchão com os lençóis e embolei tudo num canto, pra parecer que estava tudo arrumado.
Péssima idéia. Chegam os caras para instalar e peguntam:
- Você que é o Marcelo, dono da casa?
- Não, não sou.
- E você é o que dele?
- Amigo (respondi já imaginando o que os caras estavam pensando)
O cara olha para um lado... um quarto apenas... cama de casal... o meu colchão tava enrolado lá num canto, longe da vista dele... O que ele deve ter pensado? Um camarada que não é o dono da casa dizendo que é amigo dele. Pronto. Esse se f...!
Ele ainda tentou amenizar e ligou lá para net dizendo que quem atendeu foi o “colega de quarto” do dono da casa. Colega de quarto é o c... oras!
E foi assim que desisti de me hospedar na casa dos outros. Como gostava do prédio, aluguei um apartamento em outro andar. E não é que os mesmos caras vieram aqui instalar a Net depois? Será que pensaram o que dessa vez? Óh vida!