terça-feira, 6 de novembro de 2007

O sal e a Lei Maria do Carmo



Esse aí é meu primeiro vidrinho de sal. E sal, para quem mora sozinho, solteiro e sem empregada é quase como uma carta de independência. Ter seu próprio sal praticamente significa alcançar a auto-suficiência culinária e entrar em um mundo em que não há mais necessidade de pedir favores aos vizinhos.
Tudo bem, eu reconheço... ter sal não resolve todos os problemas de um solteiro, sozinho e sem empregada. Mas não tê-lo cria várias dificuldades, como a que enfrentei logo em minha primeira semana de green house. Na green não teve nada de “open house”, com as pessoas trazendo as coisas para equipar a casa... e ficou a meu cargo mesmo pensar em tudo. Claro que esqueci do sal e foi perceber isso quando colocamos a pipoca no microondas, no primeiro evento realizado na nova casa.
Aliás, é mentira. Não percebi isso quando colocamos a pipoca e sim quando tiramos ela de lá. O segundo pacote de pipoca, pois o primeiro quase precisou ser retirado por uma brigada de corpo de bombeiros.
Já devem estar dizendo que eu sou um retardado que não sabe nem usar microondas, certo? Mas dessa vez a culpa não foi minha. Uma amiga que estava lá em casa com a turma foi quem deixou que a pipoca passasse do ponto, queimasse, colorisse meu microondas branco de amarelo e enchesse a casa de fumaça. Em um ambiente pequeno, foi necessário abrir a porta e as janelas para que pudéssemos voltar a respirar. E imagino que os vizinhos que chegassem no corredor àquela altura imaginariam que ali estava sendo inaugurada a nova sauna do prédio. Porém à lenha e não a vapor.
Pois bem. Mas antes passar aos vizinhos a imagem de que sua casa é uma chaminé de defumação do que pagar o mico do sal. Essa mesma amiga que quase colocou fogo na casa foi quem pegou o sal com a vizinha da frente, a pacata dona Maria do Carmo.
Até aí tudo bem. Um pobre vizinho imbecil não se deu conta de que o sal é necessário para a sobrevivência, comprou todos os móveis, eletrodomésticos e bugingangas e esqueceu do precioso condimento.
Mas aí é que começava o meu drama. Festa acabou, todo mundo foi embora e o sal ficou. E não ficou apenas o sal, mas também o vidrinho de sal de valor inestimável para a dona Maria do Carmo.
Um dia se passou e eu deixei para entregar o sal no outro... Fiz isso uma, duas, três vezes.. Não lembro quantas... Talvez por uma semana o vidrinho de sal da dona Maria do Carmo tenha ficado em cima do móvel da cozinha. E juro, juro mesmo, não usei nem mais um grãozinho daquele sal.
Pois bem. Dona Maria do Carmo se cansou de esperar. E bateu a campainha de minha casa para cobrar o vidrinho que, segundo ela, era de uma parente que precisava do artefato de volta. Mentira da Dona Maria do Carmo! Ela só precisava de uma desculpa para me cobrar. Mas quem estava sem graça, lógico, era eu. Pensei rapidamente em uma solução e... no caminho para a cozinha, quando fui buscar o vidrinho tracei minha estratégia. Voltei e lancei logo um sonoro:
- Aaaah, então a senhora é que a Dona Maria do Carmo, né? Poxa vida! Minha amiga realmente me falou que tinha pegado emprestado com a Dona Maria do Carmo, mas não falou o apartamento e não tive como devolver.
Ela respondeu apenas com um gesto de pescoço e eu continuei minha longa explicação.
- E aí eu fiquei pensando. ‘Poxa, a Dona Maria do Carmo pode estar precisando desse sal’. Cheguei até a pensar em perguntar para o porteiro, para saber qual o apartamento!
Entreguei o sal, já morrendo de vergonha, e já percebendo que minha história não colou. Mas aí acho que Deus enxergou que eu merecia um pouco de atenção, principalmente por nunca ter ficado com nada de ninguém, e me ajudou a sair do vexame. Ou melhor, a colocar a Dona Maria do Carmo em um vexame também.
Quando a pobre senhora foi pegar o vidrinho de sal da minha mão, ela deixou cair uma sacolinha plástica que estava nas mãos e eis que de dentro daquele artefato de poliuretano caíram milhões de partículas de cinza de cigarro, restos já fumados e uma infinidade de outras porcarias e que foram dar justamente em cima do meu tapete de entrada da casa.
Pronto! O jogo virou. E me deu vontade de dar uma gargalhada. O rosto vermelho não era mais o meu, mas o da Dona Maria do Carmo. E aí, aproveitando o bom momento na partida, utilizei toda minha fineza para abdicar de protestar.
- Não se preocupe, Dona Maria do Carmo. Eu limpo. Sem problema algum. Vou pegar uma pá e uma vassoura. A senhora já me ajudou muito.
Dona Maria do Carmo saiu sem graça, pedindo desculpas... e se sentindo a pior pessoa do mundo. Deixei ela sumir do corredor, fui lá dentro, peguei o dinheiro e comprei meu vidrinho de sal. Nunca mais vi a Dona Maria do Carmo. Será que ela se mudou depois dessa? Coitada.
LIÇÕES DO EPISÓDIO:
1) Antes de comprar qualquer coisa, compre um vidrinho de sal;
2) Se por ventura acontecer uma catástrofe mundial e acabar o suprimento de sal dos seres humanos, peça sal emprestado em um potinho próprio.
3) Nunca, em hipótese nenhuma, fique com o vidrinho de sal de um vizinho
4) Se acabar o suprimento de potinhos extras e você precisar pegar o vidrinho de sal do vizinho, devolva-o imediatamente;
5) Nunca, mas nunca mesmo, coloque um vizinho em situação constrangedora. Deus pode utilizar a “Lei Maria do Carmo” e puni-lo como fez com minha vizinha.
NO PRÓXIMO CAPÍTULO: "O saco de lixo da discórdia"

12 comentários:

Anônimo disse...

Agora o drama da solteira sem empregada que tem uma prova amanha e nao consegue dormir rs

estava eu deitada em minha cama rolando de um lado para o outro quando me lembrei q vc ja deveria ter colocado mais um caso engraçado aqui rs
e vim conferir rsrs

Ainda bem q nunca precisei de pedir sal para os visinhos ia ficar no aperto pq nem dona maria do carmo tem aqui e nem nenhum vizinho rsrss

Bom agora depois de rir um pouco ja da para dormir rsrs

bjos

Ricardo Corrêa disse...

kkkkkk, iris.
No seu caso, que mora na praia, basta pegar sal no mar... rs
Agora, pra prova não tem jeito. Aí não há sal que resolva. Espero que já tenho conseguido dormir agora. Que bom que minhas babaquices estão sendo úteis.
Bjoes,

Lucas Calente disse...

hahahha, maria do carmo!
muito bom!

Anônimo disse...

Mais que sínicoooo é vc hein!!!
Queria era ficar com o vidrinho de sal da D. Maria do Carmo! Coitadaaaaaaa!!!

Vai que ela comprou esse vidrinho na loja de R$1,99 e se apegou a ele?
Eu tenho uns em casa que amo de paixao, e mesmo tendo sido comprado na loja de R$1,99 eles me são muito uteis!!
rssssssss

Anônimo disse...

Tempos depois do ocorrido e com a visão de quem está de fora, acho que do mesmo jeito que você mentiu ao dizer que não sabia qual era o apartamento, dona Maria do Carmo arquitetou uma terrível vingança e a colocou em prática derrubando a sacolinha.
Sobre o dia do incêndio na green, até hoje tenho dificuldades respiratórias por conta da densa fumaça!

Unknown disse...

Em primeiro lugar, venhoa através desta protestar contra fatos inverídicos postados nesse blog. Eu não coloquei fogo no microondas, coisa nenhuma... no aparelho da minha casa, a gente programa a pipoca para 4 minutos. Eu fiz o mesmo na green house, só que a parada começou a queimar com menos de dois minutos! Isso quer dizer, que o microondas é que não presta!
Segunda coisa... eu pedi o sal, mas disse para ele devolver. O problema é que meu amigo não prestou atenção em qual apartamento eu toquei. Portanto, essas denúncias são infundadas. Eu sou inocente!

Vívian Soares disse...

Pelo menos você tem microondas!
Na Yellow House - a nossa - ainda não evoluímos a ponto de adquirir tão importante eletrodoméstico para solteiros sem empregada.

Unknown disse...

Kkkkkkkkkk, engraçado, não sei pq mas qdo li o texto tinha imaginado a lu como 'garota incendiária'? Ela confirmou, háháhá! Não pode entregar a classe assim não lôraaaaa!!!

Vanessa Oliveira disse...

Ainda bem que você não é meu vizinho! Imagine não devolver o meu sal? E a santa pipoca do dia-a-dia! Dou razão pra Dona MAria do Carmo!!!hahahaha

Beijooooos

APPedrosa disse...

Adorei seu blog. É divertidíssimo. Vou colocar um link no meu. (www.escritosaovento.blogspot.com).
Ana Paula

F disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
F disse...

kkk 2007, ainda bem que humor e sal não têm validade