quarta-feira, 5 de março de 2008

A folga

Ah, a folga... Sonhamos com ela a cada minuto que estamos dormindo e desejamos a cada momento em que estamos acordados. Eu sou daqueles que trabalha muito e se dedica ao máximo, mas que não aceita ouvir alguém dizer que "gosta de trabalhar". Isso é papo furado, afinal, se eu perguntar agora a cada um de vocês se preferem estar no trabalho ou estar de folga... todos vão responder pela segunda opção. Mas a folga de um solteiro, sozinho e sem empregada, principalmente em um início de mês, não é a coisa maaais tranqüila e agradável do mundo.
E digo isso às 16h40, quando oficialmente termina minha folga. Digo oficialmente pois, embora o dia não tenha acabado, eu já considero a folga encerrada pois, em tese, meu horário de trabalho vai de 9h às 16h30. Claro que é só na teoria, pois na prática eu trabalho até 18h.
Então deixa eu narrar como foi essa minha folga hoje, em plena quarta-feira, fruto do trabalho no sábado (até 23h30) e no domingo (até 22h00).
Ato I - Levantar:
Parece uma atitude simples. Já faço isso todo dia mesmo... acordando entre 7h e 7h30 para me arrumar para o trabalho. Mas em dia de folga você já começa com má vontade de ir dormir, na véspera. Acabei dormindo até tarde demais e fui acordar, vejamos... 14h. Notem que, assim, minha folga (acordado) se resumiu a 2h30. E como vou aproveitar tão precioso tempo?
Ato II - Atualização
Pode ser dia do maior temporal da história, ou o dia em que o sol estará tão quente que os seres humanos vão derreter se saírem pela rua. E se Belo Horizonte estiver em guerra com Sete Lagoas? Posso ser alvejado por um soldado das Forças Armadas Revolucionárias da Savassi (FARS)... Então antes de tudo preciso me atualizar. Acordo e faço um esforço "sobrehumano" para me arrastar até minha bela e confortável cadeira que fica em frente ao PC. Faço um alongamento básico para ligar o PC, cuja CPU fica no chão, e vou saber se a Colômbia e o Equador já se acertaram, se o STF aprovou ou não o uso de células-tronco e o se o pó-de-arroz da torcida do Fluminense está ou não liberado para o jogo de hoje à noite no Maracanã.
Ato III - Recomposição
Após acordar e já devidamente bem informado, posso abrir a janela tranqüilamente, e ver se a previsão do tempo estava certa. Pelo barulho dos carros pela rua, já havia notado que não tinha água alguma, portando certamente era um dia de sol. Dito e feito. Sol quente, temperatura em elevação... janelas abertas... Era hora de me recompor. Escovar os dentes, pentear o cabelo, comer uma meia dúzia de bis para abrir o apetite... Pronto. Estava pronto para minha folga. E eram, apenas, 15h00!!!! Ou seja, ainda tinha uma loooonga 1h30 pela frente.
Ato III - O saque!
Agora era hora de cumprir itens obrigatórios, como pagar o aluguel, fazer transações financeiras e garantir suprimentos para sobreviver aqui no mundo difícil da green house. Saio de casa, vou até um caixa eletrônico aqui perto de casa para enfrentar uma pequena fila (apenas 3 pessoas) para sacar dinheiro. Eram apenas 3 pessoas, mas o primeiro da fila valia por 20. Eu com uma hora e meia apenas para aproveitar da folga e o camarada resolve pagar todas as contas do mundo. A primeira coisa que tive foi pena do sujeito. Pensei: esse cara não deve ter dinheiro nem para comer, de tanta conta que tem para pagar. Tinha um papel verde, outro azul, um branco. E no final ainda consegui identificar a conta da Cemig, a companhia de energia elétrica que possui a sexta tarifa mais cara do mundo!!!!!!! Ele deve ter demorado uns 15 minutos (só ele!) pagando aquelas contas. Somando os outros dois que estavam na fila, perdi ali 20 minutos preciosos até chegar a minha vez. Chegou, e faltavam apenas 1h10 para acabar a minha folga.
Ato IV - O aluguel
Enquanto procuro a nova green house para comprar, sigo pagando aluguel. E meu próximo obstáculo, digo, minha próxima tarefa era pagar o aluguel, que é feito por depósito bancário. Preferia que pudesse ser por transferência bancária, pois aí faria pela internet, como faço com todas as contas. Mas para fazer transferência entre dois bancos distintos, preciso do CPF do receptor da grana. E, não riam de mim, mas eu perdi o telefone da dona da casa e não tenho nenhuma forma de contato com ela. O que eu quero dizer com isso é que o único jeito de eu falar com ela seria atrasar o aluguel indefinidamente, para ela me ligar reclamando. Mas como isso geraria outros transtornos, eu sigo pagando o aluguel por depósito, de foma sagrada, antes do dia 5, todos os meses. Sendo assim, lá se vou eu a uma casa lotérica aqui em frente minha casa, para fazer o depósito, já que a conta é na Caixa. Estou na fila quando espertamente uma senhora, apostadora da mega-sena, entra na minha frente fazendo de boba. Como era uma senhora, eu nunca tentaria tomar o lugar dela. Ainda por cima pensei: Essa senhora está torrando o dinheiro de INSS dela com a mega-sena. Tem uma chance que podemos chamar de ridícula de ganhar e eu ainda vou criar problema para ela. Deixa ela apostar em paz e depois eu pago o aluguel. Esperei pacientemente até que a velhinha registrasse os números (um palpite para quem visitar o blog: 7, 13, 35, 44, 46, 53). Paguei o aluguel e me sobrou 1h para aproveitar com a folga.
Ato V - O banco
Eu já havia sacado dinheiro, pagado o aluguel e agora minha missão era depositar um dinheiro em minha própria conta de outro banco. Faço isso pois recebo no Banco do Brasil (conta salário), mas gosto mesmo é do Banco Real (que sou cliente desde a universidade). Assim, lá fui eu depositar a grana. Rapidamente estava tudo resolvido, em 10 minutos, afinal o Real faz mais que o possível!
Ato VI - O Supermercado
Com 50 minutos ainda de folga, faltava apenas ir ao supermercado para encerrar minhas obrigações e poder, enfim, curtir minha folga merecida. Optei por um que tem aqui perto de casa, daqueles modelos Carrefour Bairro, para gastar menos tempo. Mas como eu adoro supermercado, um minimercado me desagrada. Entrei naquele lugar quente, pequeno e apertado... e que ainda por cima estava cheio. Tentei comprar morangos, mas não tinha pois está fora da época. Fui buscar então um pacote de pão de forma. Mas era impressionante a quantidade de funcionários do supermercado que eu encontrei no caminho reorganizando os produtos e ocupando o espaço que eu tinha para passar com o carrinho. Carrinho que, diga-se de passagem, eu custei a conseguir e que estava cheio de restos de folha de alface que o infeliz que usou antes de mim pegou... Agora me digam: 15h40 é o horário ideal para reorganização de um supermercado? E ainda por cima gritando: "Ô Araujo, o vinho nacional eu deixo aqui ou coloco junto com o importado?". Vou te dizer o que você faz com esse vinho...
Para piorar as coisas, minha próxima missão, depois do pão de forma, era comprar suco. Acontece que, exatamente no corredor de sucos e refrigerantes, o pessoal do supermercado teve a brilhante idéia de colocar os ovos de páscoa, fazendo aquele túnel de chocolate. Eu tenho 1,90 e os ovos estavam a uma altura de 1,80. Pois bem. Peguei qualquer suco pois não aguentava a ridícula situação de andar abaixado naquela droga de túnel. E vez ou outra ainda metia a cabeça naqueles "ovos" de batom que inventaram esse ano, e que tem um tubo com formato de batom. Após o suco, peguei uma mussarela para acompanhar o presunto que eu já tinha em casa, e colocar no pão e fui então, me desvencilhando das pessoas que cismavam em parar no caminho. Enfim cheguei até o caixa, onde os carrinhos vazios já se acumulavam ocupando o lugar que deveria ser da fila. E aí começou outro drama. Primeiro uma senhora que comprou cinco cenouras e sete batatas e queria pagar com uma nota de 50 reais. Com muito custo a dona do caixa, já estressada, conseguiu convencê-la a pagar com uma nota de 10. Depois um camaradinha que comprou uma pasta de dentes e queria pagar com 20 reais. A dona do caixa, mais estressada ainda, conseguiu convencê-lo de que olhasse na carteira e percebesse que ele tinha os R$ 2,69 para pagar aquela porcaria.
Quando chegou minha vez a mulher já estava estressada. Ainda bem que eu tinha dinheiro trocado, senão ela voaria no meu pescoço. Com uma cara de nojo ela ainda me disse: "Trabalhar é péssimo". Eu concordo com ela. Trabalhar é péssimo. Mas ela não podia me dizer isso, oras...
Saí daquele supermercado uns 10 graus mais estressados. Mas sem perder a paciência, afinal, era minha folga! Olhei no relógio (do celular, já que o meu relógio de pulso estragou no futebol da semana passada) e percebi que já eram: 16h10. Cheguei em casa 16h20. Coloquei as coisas em seus devidos lugares, troquei de roupa, liguei o computador, vim aqui abrir o blog para ver se os anúncios que coloquei estavam funcionando e... deu 16h30. Acabou minha folga. Na próxima eu aproveito...

Um comentário:

APPedrosa disse...

Ricardo, sua folga foi melhor que a minha. Usando seus critérios, minha folga começaria às 13h30 e terminaria 20h30. Só que às 18h uma fonte ligou, com uma notícia boa e tchau, tchau folga. E hoje, sábado, a mesma fonte me acordou com mais uns detalhes. Vai estar tudo no jornal de amanhã. E na segunda acho que vou negociar outra folga, rsss.
Abraços, o blog está cada vez mais divertido.
Ana Paula